Eu ainda não tenho coragem de levar o Bruno para uma manifestação. Mas também não podia deixar passar batida aquela segunda-feira marcante da história de nosso país. Foi uma segunda em que até o ar da manhã estava diferente, afoito, ansioso pelas badaladas das 17h.
Então peguei o lençol branco e andei de uma janela a outra do apartamento, até encontrar uma em que ela ficasse bonitona balançando ao vento do décimo oitavo andar.
O Bruno até tentou se manter indiferente em meio aos seus games, mas não é sempre que a mãe se põe a colocar um lençol branco na janela por causa de uma notícia da TV. Algo diferente estava acontecendo, ele sabia.
- Olha, Bruno, toda essa gente está se reunindo para uma manifestação.
- Deixa eu ver quem mais colocou lençol branco na janela. (...) Xii, mãe, nós somos os únicos aqui do nosso condomínio.
- Não tem problema não, Bruno, a gente faz nossa parte.
Uma parte tão pequena, eu sei, naquele momento era uma participação muito miúda. Só que eu sei, eu realmente acredito que assim, pequenininho, estou participando de uma maneira grande sim, formando um cidadão.
- Olha mãe, já estão contando que são 40 mil!
E juntando um pequeno cidadão aqui e outro acolá, de repente temos uma nação que cresce.
- E no Rio de Janeiro já são 100 mil!!!
E assim, simbolicamente, o Bruno guardou com carinho sua participação naquela segunda-feira de manifestações. Acompanhou maravilhado a multidão tomando as ruas do país, mostrou com entusiasmo ao pai o lençol branco balançando no escuro, contou-lhe sobre os números de manifestantes - que na hora não importava se eram 65, 100 mil, um milhão. Eram muitos.
Aquele dia, naquele dia, eu sei que não foi nada. Só que eu acredito que esse esporo de cidadania um dia vai eclodir da memória, em forma de força extra para fazer a sua, a sua parte, na confiança sobre a união de forças, numa luta que pode parecer solitária olhando daqui da janela.
Amanhã vai ser maior. Tudo começa pequeno. Amanhã vai ser maior!...
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