Bruno com 11 anos. Puxa vida, onze anos. Está passando 2015 com seus sentimentos tão divididos. Descobrindo coisas novas em sua vida e, já com saudade, se despedindo da infância.
Hoje perguntei para ele se estavam comentando nas aulas sobre o desastre da barragens que se romperam em Mariana. Ele disse que não. Então lhe contei o que estava acontecendo. Ele ficou mal, indignado com a falta de pensar no outro, com o egoísmo dos seres humanos, ficou se sentindo muito pequeno e impotente.
Dei a ideia de levar o assunto para a escola amanhã, na aula de História ou Geografia. Então ele me disse a coisa que a gente mais precisa escutar:
- Eu não quero falar desse assunto para fins de estudo. Eu quero ajudar!!
E é realmente diferente.
Será que quando estudamos moralidade, tornamo-nos mais morais? A resposta é não. Quando estudamos moralidade, estamos adquirindo conhecimentos teóricos. Não estamos exercitando a bondade, a generosidade, a moralidade, a ética.
Falar sobre fazer o bem não nos torna bons, como já se dizia desde antes.
E é isso que estamos fazendo no facebook. Comentando sobre ser ou não bom, generoso e humano. E o que, de fato, estamos fazendo?
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quinta-feira, 12 de novembro de 2015
Sobre o desastre de Mariana
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quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Saudade
Papai viajou e Renato aprendeu a falar "saudade".
E ficou a semana inteira: "mamãe... papai... sôdade"... "papai... tchau tchau... sadade"
Uma vez que acordou de um cochilo perguntou:
- Buno?
- O Bruno está na escola, Renato.
- Qui sadade!
Também pegava o telefone e conversava:
- Vovó! Sadade!
A gente pensa que criança pequena pouco sente. Que depois esquece. Que tipo de esquecimento será que é? Que tipo de lembrança será que fica? Sim, penso nos órfãos. Me dói só de imaginar o tamanho do sofrimento que esses pequenos precisam superar e fingir pra si mesmos que esqueceram...
domingo, 20 de julho de 2014
Bronca merecida
Pois aquela bronca foi muito merecida, ah... se foi!
O sol começou a se pôr e eu fiquei bastante irritada. Mais um dia tinha se acabado com produtividade zero. Na cozinha comecei a guardar a louça ruidosamente e o Bruno veio prestativo:
- Mãe... se acalma. Você sempre me diz que quando estamos nervosos não conseguimos fazer nada direito. Olha, toma um copo d'água.
Mas eu estava nervosa e então não fiz nada direito:
- Eu não quero água. Aliás, você passou a tarde inteira sem tomar água. E é hora de tomar banho.
Ele foi.
Ora essa agora. Eu sem tempo nenhum, lá podia me dar ao luxo de ficar calma? Terminei de arrumar a louça e quando passei perto da porta do banheiro pude perceber que o Bruno falava sozinho no chuveiro e pelo tom suspeitei que tinha a ver comigo. Não dava pra deixar pra lá, eu tinha que respirar fundo, manter a compostura e lhe explicar que minha situação estava complicada.
- Bruno… o que você tem para me dizer?
- Olha mãe… quando você está calma e me dá uma bronca, eu aceito. Porque você é minha mãe, eu sei que você quer o meu bem e eu confio em você. Mas quando você está nervosa e me dá uma bronca… daí não dá pra confiar.
Senti todos os nós musculares de tensão se desfazerem e minhas pernas amolecerem. Minha raiva se derreteu com os hormônios do amor materno circulando pelo corpo. Eu não tinha razão nenhuma, não havia nada a defender e por sorte consegui lhe pedir desculpas como exigia a situação. Fiquei até orgulhosa em receber uma bronca tão justa...
O sol começou a se pôr e eu fiquei bastante irritada. Mais um dia tinha se acabado com produtividade zero. Na cozinha comecei a guardar a louça ruidosamente e o Bruno veio prestativo:
- Mãe... se acalma. Você sempre me diz que quando estamos nervosos não conseguimos fazer nada direito. Olha, toma um copo d'água.
Mas eu estava nervosa e então não fiz nada direito:
- Eu não quero água. Aliás, você passou a tarde inteira sem tomar água. E é hora de tomar banho.
Ele foi.
Ora essa agora. Eu sem tempo nenhum, lá podia me dar ao luxo de ficar calma? Terminei de arrumar a louça e quando passei perto da porta do banheiro pude perceber que o Bruno falava sozinho no chuveiro e pelo tom suspeitei que tinha a ver comigo. Não dava pra deixar pra lá, eu tinha que respirar fundo, manter a compostura e lhe explicar que minha situação estava complicada.
- Bruno… o que você tem para me dizer?
- Olha mãe… quando você está calma e me dá uma bronca, eu aceito. Porque você é minha mãe, eu sei que você quer o meu bem e eu confio em você. Mas quando você está nervosa e me dá uma bronca… daí não dá pra confiar.
Senti todos os nós musculares de tensão se desfazerem e minhas pernas amolecerem. Minha raiva se derreteu com os hormônios do amor materno circulando pelo corpo. Eu não tinha razão nenhuma, não havia nada a defender e por sorte consegui lhe pedir desculpas como exigia a situação. Fiquei até orgulhosa em receber uma bronca tão justa...
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quinta-feira, 17 de julho de 2014
Uma pequena pausa para registrar um auto-lembrete
- Ai, Bruno, tô pifando!!…
- Não pife, mãe, não pife. Você é mãe!
- Não pife, mãe, não pife. Você é mãe!
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Itadakimassu! - Momento mágico
Hora da janta, um descuido repetido, desperdício, bronca. Limpou-se a lambança, choro e sentimento de injustiça:
- Foi só um acidente, poxa!! Acidentes acontecem!!
- Bruno, o que me deixou brava não foi a bagunça. Foi o desperdício de comida e o desrespeito com o trabalho que eu tive de fazer a janta. Você viu quanto tempo eu levei pra fazer a janta.
Então o rosto dele mudou. Caiu uma ficha nele.
Refiz o prato dele porque, por sorte, ainda havia mais na panela. Jantamos de cara fechada. Quando ele ficou satisfeito, sentou do meu lado.
- Na hora eu achei que você tinha ficado brava por causa da sujeira e fiquei muito confuso. Mas depois entendi. Desculpa.
Eu expliquei pra ele então um conceito que aprendi há pouco tempo de uma prima muito querida: o do "Itadakimassu". "Itadakimassu" é uma palavra que funciona como a oração antes de comer. O conceito mais difundido é o de agradecimento à pessoa que está fazendo a comida. Mas as crianças modernas do Japão estão deixando de falar "Itadakimassu" porque se come muito fora de casa, e então elas pensam "meu pai está pagando pra ele fazer essa comida, eu não preciso agradecer".
Porém esse é um agradecimento que vai além, vai também para os agricultores, para todas as pessoas envolvidas no processo da comida chegar até nossa mesa, para a natureza que possibilitou a existência dessas hortaliças, para o animal que foi sacrificado para nos alimentar.
Pela carinha do Bruno, caiu mais uma ficha. Ele se sentou ainda mais aninhado em mim, como quem quer ouvir mais. Contei mais uns causos clássicos sobre situações extremas de falta de comida. É, a gente gosta de conversar longamente depois de uma briga, uma mania de nosso núcleo familiar, sei lá...
Então perguntei:
- Vai bem uma panquequinha de sobremesa?
Ele ficou perplexo. Depois de tudo, ele ainda ia ganhar uma panqueca?
- Um minutinho, mãe, um minutinho...
Foi até ali e um pouco depois voltou:
- Dessa vez eu é que vou fazer o sacrifício de fazer a panqueca!
E ficou fofinha que só com amor mesmo. Repartida como nas aulas de fração.
E assim tivemos mais um momento mágico...
- Foi só um acidente, poxa!! Acidentes acontecem!!
- Bruno, o que me deixou brava não foi a bagunça. Foi o desperdício de comida e o desrespeito com o trabalho que eu tive de fazer a janta. Você viu quanto tempo eu levei pra fazer a janta.
Então o rosto dele mudou. Caiu uma ficha nele.
Refiz o prato dele porque, por sorte, ainda havia mais na panela. Jantamos de cara fechada. Quando ele ficou satisfeito, sentou do meu lado.
- Na hora eu achei que você tinha ficado brava por causa da sujeira e fiquei muito confuso. Mas depois entendi. Desculpa.
Eu expliquei pra ele então um conceito que aprendi há pouco tempo de uma prima muito querida: o do "Itadakimassu". "Itadakimassu" é uma palavra que funciona como a oração antes de comer. O conceito mais difundido é o de agradecimento à pessoa que está fazendo a comida. Mas as crianças modernas do Japão estão deixando de falar "Itadakimassu" porque se come muito fora de casa, e então elas pensam "meu pai está pagando pra ele fazer essa comida, eu não preciso agradecer".
Porém esse é um agradecimento que vai além, vai também para os agricultores, para todas as pessoas envolvidas no processo da comida chegar até nossa mesa, para a natureza que possibilitou a existência dessas hortaliças, para o animal que foi sacrificado para nos alimentar.
Pela carinha do Bruno, caiu mais uma ficha. Ele se sentou ainda mais aninhado em mim, como quem quer ouvir mais. Contei mais uns causos clássicos sobre situações extremas de falta de comida. É, a gente gosta de conversar longamente depois de uma briga, uma mania de nosso núcleo familiar, sei lá...
Então perguntei:
- Vai bem uma panquequinha de sobremesa?
Ele ficou perplexo. Depois de tudo, ele ainda ia ganhar uma panqueca?
- Um minutinho, mãe, um minutinho...
Foi até ali e um pouco depois voltou:
- Dessa vez eu é que vou fazer o sacrifício de fazer a panqueca!
E ficou fofinha que só com amor mesmo. Repartida como nas aulas de fração.
E assim tivemos mais um momento mágico...
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Momento mágico
domingo, 30 de junho de 2013
Momento mágico do lençol branco
Eu ainda não tenho coragem de levar o Bruno para uma manifestação. Mas também não podia deixar passar batida aquela segunda-feira marcante da história de nosso país. Foi uma segunda em que até o ar da manhã estava diferente, afoito, ansioso pelas badaladas das 17h.
Então peguei o lençol branco e andei de uma janela a outra do apartamento, até encontrar uma em que ela ficasse bonitona balançando ao vento do décimo oitavo andar.
O Bruno até tentou se manter indiferente em meio aos seus games, mas não é sempre que a mãe se põe a colocar um lençol branco na janela por causa de uma notícia da TV. Algo diferente estava acontecendo, ele sabia.
- Olha, Bruno, toda essa gente está se reunindo para uma manifestação.
- Deixa eu ver quem mais colocou lençol branco na janela. (...) Xii, mãe, nós somos os únicos aqui do nosso condomínio.
- Não tem problema não, Bruno, a gente faz nossa parte.
Uma parte tão pequena, eu sei, naquele momento era uma participação muito miúda. Só que eu sei, eu realmente acredito que assim, pequenininho, estou participando de uma maneira grande sim, formando um cidadão.
- Olha mãe, já estão contando que são 40 mil!
E juntando um pequeno cidadão aqui e outro acolá, de repente temos uma nação que cresce.
- E no Rio de Janeiro já são 100 mil!!!
E assim, simbolicamente, o Bruno guardou com carinho sua participação naquela segunda-feira de manifestações. Acompanhou maravilhado a multidão tomando as ruas do país, mostrou com entusiasmo ao pai o lençol branco balançando no escuro, contou-lhe sobre os números de manifestantes - que na hora não importava se eram 65, 100 mil, um milhão. Eram muitos.
Aquele dia, naquele dia, eu sei que não foi nada. Só que eu acredito que esse esporo de cidadania um dia vai eclodir da memória, em forma de força extra para fazer a sua, a sua parte, na confiança sobre a união de forças, numa luta que pode parecer solitária olhando daqui da janela.
Amanhã vai ser maior. Tudo começa pequeno. Amanhã vai ser maior!...
Então peguei o lençol branco e andei de uma janela a outra do apartamento, até encontrar uma em que ela ficasse bonitona balançando ao vento do décimo oitavo andar.
O Bruno até tentou se manter indiferente em meio aos seus games, mas não é sempre que a mãe se põe a colocar um lençol branco na janela por causa de uma notícia da TV. Algo diferente estava acontecendo, ele sabia.
- Olha, Bruno, toda essa gente está se reunindo para uma manifestação.
- Deixa eu ver quem mais colocou lençol branco na janela. (...) Xii, mãe, nós somos os únicos aqui do nosso condomínio.
- Não tem problema não, Bruno, a gente faz nossa parte.
Uma parte tão pequena, eu sei, naquele momento era uma participação muito miúda. Só que eu sei, eu realmente acredito que assim, pequenininho, estou participando de uma maneira grande sim, formando um cidadão.
- Olha mãe, já estão contando que são 40 mil!
E juntando um pequeno cidadão aqui e outro acolá, de repente temos uma nação que cresce.
- E no Rio de Janeiro já são 100 mil!!!
E assim, simbolicamente, o Bruno guardou com carinho sua participação naquela segunda-feira de manifestações. Acompanhou maravilhado a multidão tomando as ruas do país, mostrou com entusiasmo ao pai o lençol branco balançando no escuro, contou-lhe sobre os números de manifestantes - que na hora não importava se eram 65, 100 mil, um milhão. Eram muitos.
Aquele dia, naquele dia, eu sei que não foi nada. Só que eu acredito que esse esporo de cidadania um dia vai eclodir da memória, em forma de força extra para fazer a sua, a sua parte, na confiança sobre a união de forças, numa luta que pode parecer solitária olhando daqui da janela.
Amanhã vai ser maior. Tudo começa pequeno. Amanhã vai ser maior!...
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quarta-feira, 5 de junho de 2013
9 anos: xeque-mate
9 anos!... Quando foi que tudo isso aconteceu? Se quando o Conversa de Penico começou ele era campeão de frases fofas, hoje ele é um grande estrategista nos argumentos.
(Psiiiu... não conta pra ele que eu continuo achando ele fofo... é meu filhote, vou fazer o quê?!?!)
Ele andou uns dias testando até onde ia nosso limite quanto aos seus horários. Apesar de ser responsável por administrar seu tempo para fazer lição de casa e suas tarefas, andava adiando, adiando, até que chegou o dia em que eu disse que era hora de dormir e só então ele foi fazer lição. Aí pegou.
- Bruno, você não está mostrando que tem responsabilidade pra controlar seus horários. A partir de agora, eu é que vou controlar seus horários.
- O quê?? Eu vou ter que seguir os horários que você mandar?
- Sim. Só vai brincar e assistir TV depois de fazer todas as suas tarefas. E pra ter de volta sua liberdade com os horários, vai ter que me provar que é responsável o suficiente pra isso.
Uhm. Pra quê, né?
- Mas mãe!... se eu não posso controlar meus horários, como é que eu vou poder provar que posso controlar meus horários?!?!
Não adianta, não há espaço para deslizes. Sempre há uma brecha na legislação que ameaça a ordem.
Por outro lado, com tanta maturidade, ele também toma conta de mim:
- Mãe... o que você tem? Você tá bem? - ele disse, meio alarmado
- Tô sim, Bruno. Só tô com sono, muito, muito sono.
E fui para o computador. O Bruno veio atrás.
- Mãe!!! Se é só facebook, vai dormir!!!
E assim, de xeque em xeque, vamos entrando na pré-adolescência. E eu fico aqui pensando até quando será que vou continuar achando ele um fofo...
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quarta-feira, 25 de abril de 2012
Um quarteirão de discussão social
- Mãe, ainda bem que não existe cadeia pra criança, né? Porque não é certo prender criança.
- Na verdade existe a Febem, Bruno. É uma prisão para crianças que cometem crimes.
- O quê??? Existe prisão pra criança??? Eles ficam na cela?
- Isso eu não sei dizer muito bem... a Febem foi criada para ajudar a educar as crianças...
- Ah bom!!!
- ... mas na realidade acontece, sim, de os policiais judiarem das crianças e as crianças sofrerem.
- O quê??? Mas eles não sabem que se eles maltratam as crianças, elas vão querer fazer isso com os outros também? Quem melhor educa as crianças são os pais.
- É que existem crianças que não tem pais, ou que os pais também são criminosos ou violentos. É complicado. Todos sabem que existem problemas mas são problemas difíceis de resolver porque também existe muita gente envolvida que não pensa no bem.
- Ai... tudo seria tão mais mais fácil se todo mundo pensasse no bem... Acho que é por isso que o Brasil não tem boa fama no mundo. Acho que eu não quero mais morar no Brasil.
Em conversa de uma volta no quarteirão, uma criança percebe que tudo seria mais fácil se todos pensassem no bem. E se sente impotente diante da imensidão do problema e pensa em sair do país. Incrível como viramos adultos e nosso pensamento continua parado no mesmo ponto.
Com o Bruno, claro que a conversa continuou, porque quero que ele se sinta capaz de mudar o mundo, sim. Disse-lhe que ao invés de fugir, prefiro pensar no que "nós" podemos fazer de bem. Mesmo que tenha saído pelo outro ouvido, sei que teremos outras conversas boas assim...
- Na verdade existe a Febem, Bruno. É uma prisão para crianças que cometem crimes.
- O quê??? Existe prisão pra criança??? Eles ficam na cela?
- Isso eu não sei dizer muito bem... a Febem foi criada para ajudar a educar as crianças...
- Ah bom!!!
- ... mas na realidade acontece, sim, de os policiais judiarem das crianças e as crianças sofrerem.
- O quê??? Mas eles não sabem que se eles maltratam as crianças, elas vão querer fazer isso com os outros também? Quem melhor educa as crianças são os pais.
- É que existem crianças que não tem pais, ou que os pais também são criminosos ou violentos. É complicado. Todos sabem que existem problemas mas são problemas difíceis de resolver porque também existe muita gente envolvida que não pensa no bem.
- Ai... tudo seria tão mais mais fácil se todo mundo pensasse no bem... Acho que é por isso que o Brasil não tem boa fama no mundo. Acho que eu não quero mais morar no Brasil.
. . .
Em conversa de uma volta no quarteirão, uma criança percebe que tudo seria mais fácil se todos pensassem no bem. E se sente impotente diante da imensidão do problema e pensa em sair do país. Incrível como viramos adultos e nosso pensamento continua parado no mesmo ponto.
Com o Bruno, claro que a conversa continuou, porque quero que ele se sinta capaz de mudar o mundo, sim. Disse-lhe que ao invés de fugir, prefiro pensar no que "nós" podemos fazer de bem. Mesmo que tenha saído pelo outro ouvido, sei que teremos outras conversas boas assim...
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Volta às aulas
Depois destas férias de verão geladinhas de muuuuito gibi da Mônica, chegou a hora de voltar às aulas.
Ainda bem que a lista de materiais era pequena, porque esse ano tivemos que renovar também a mochila e a lancheira. Eu e o Bruno andarilhamos pela cidade molhada em busca dos materiais escolares. Doidera levar o filho pra comprar material junto? Olha, tenho que dizer que estou pra lá de orgulhosa, prepare-se que esse sim, vai ser um post de mãe coruja.
A primeira compra foi um estojo. Primeiro, ele fugia do cor-de-rosa e em seguida ia olhando primeiro as etiquetas. Escolheu uma que custava menos da metade das outras. Perguntei:
- E aqueles outros estojos do ano passado, Bruno, precisam ser trocados também?
- Não, mãe, eles estão ótimos.
- Olha, Bruno, este aqui é bacana.
Ele nem olhou para o Homem Aranha supimpa no tecido brilhante. Incrível como brilham os materiais escolares hoje em dia. Ele viu a etiqueta:
- Mãe... esse aqui que eu escolhi é muito mais barato! Vamos levar este!
E o preço das mochilas e lancheiras, você viu??? Que absurdo. Levei ele para escolher uma mochila sem personagem e ele topou com todo o gosto. A lancheira ia ter personagem, essa foi a troca. Procuramos, procuramos, bastante mesmo, até que me rendi e comprei aqui perto, porque os preços estão todos iguais. Ele olhou a prateleira de lancheiras, fugiu das cor-de-rosa e começou a olhar os preços.
- O quê?!?!?! Isso é o preço de uma lancheira??
Não, o comentário não foi meu, foi dele. A vendedora arregalou os olhos.
- Mãe, você acha que os preços das lancheiras estão justos nessa loja?
Expliquei que já tínhamos procurado bastante, que os preços estavam todos parecidos em todas as lojas e que iríamos comprar ali mesmo. Dei para ele escolher 3 lancheiras. Pensou um pouquinho e se decidiu. Pronto.
A vendedora estava pasma. Disse que nunca em todo seu tempo na papelaria tinha visto uma criança com tanta consciência.
Mesmo sendo exagero dela, eu tenho que demonstrar meu orgulho em ter um filhote que está se salvando do consumismo. A cerejinha do bolo foi numa outra loja, num outro dia de chuva: ele nem ligou em escolher as capas dos cadernos, um mais televisivo que outro. Afinal desenho animado é pra assistir, não pra ficar comprando, certo? Mas quando viu a bancada de dicionários... o olho dele brilhou, começou a contar de Fulano do outro ano que tinha um dicionário, ajudou a escolher, a procurar...
- Vê quanto custa esse, mãe.
E em casa, a primeira coisa que quis ver foi ele.
- Cadê, cadê, cadê meu dicionário? [Olhos arregalados, sorriso gigante, facho de luz saindo de dentro do dicionário] Uuuuuuu, dicionáaaario!! Eu tenho um dicionário!!
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terça-feira, 6 de julho de 2010
Na luta pelos direitos das escovas de dente
Nesta noite, a história escolhida foi uma sobre a imigração no Brasil, uma revista em quadrinhos da Turma da Mônica. Lá se contava que na Europa os operários estavam sendo substituídos por máquinas e que muita gente ficou desempregada, então vieram ao Brasil tentar uma nova vida.
Terminada a história, era hora de escovar os dentes. Olhei para a escova e disse:
- Ih, Bruno, essa escova já está toda aberta, vamos ter que trocar.
- Você vai substituí-la? - o grifo é devido ao esforço que o menino fez para usar uma palavra que tinha acabado de ouvir no gibi.
- Sim, ela vai ser substituída.
- Mas ela não vai perder o emprego, vai???
Bem, sob protestos do sindicato acordamos que a velha escova de dentes seria realocada no setor de artes da casa.
Terminada a história, era hora de escovar os dentes. Olhei para a escova e disse:
- Ih, Bruno, essa escova já está toda aberta, vamos ter que trocar.
- Você vai substituí-la? - o grifo é devido ao esforço que o menino fez para usar uma palavra que tinha acabado de ouvir no gibi.
- Sim, ela vai ser substituída.
- Mas ela não vai perder o emprego, vai???
Bem, sob protestos do sindicato acordamos que a velha escova de dentes seria realocada no setor de artes da casa.
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sexta-feira, 30 de abril de 2010
Leitura de mãos manejando durex
Ontem fomos comprar presentes de aniversário para amigos do Bruno.
A vendedora fez os pacotes com uma má-vontade nota 10. Não era falta de jeito, na qual não há problema algum, era falta de vontade mesmo. E como aprecio a arte de fazer pacotes, estava cheia de comichão ao ver aquelas mãos que mal conseguiam levantar do balcão e que baixavam tombando sobre o pacote, o durex grudado torto onde não era pra ter durex, etiqueta da loja sendo usada como durex por todos lados, a cabeça pendida pro lado...
O clima era pesado, e eu no meu exoterismo pensei na energia ruim que pairava ali. Pensei em muita coisa, eu até me prometia a mim mesma que jamais deixaria que a rotina chegasse ao ponto de eu agir daquela maneira. Bem, mas tudo eram pensamentos meus, algo que ebulia internamente, mania minha.
Então o Bruno foi mais além e entendeu tudo. Ele virou pra mim e disse:
- Ela não tá feliz?
Desejei que a moça tivesse escutado. Que ela ouvisse aquilo e tomasse uma atitude.
Pendurei a pergunta na minha gargantilha, para olhar de vez em quando no espelho e lembrar da lição, como um checkup da saúde da alma.
A vendedora fez os pacotes com uma má-vontade nota 10. Não era falta de jeito, na qual não há problema algum, era falta de vontade mesmo. E como aprecio a arte de fazer pacotes, estava cheia de comichão ao ver aquelas mãos que mal conseguiam levantar do balcão e que baixavam tombando sobre o pacote, o durex grudado torto onde não era pra ter durex, etiqueta da loja sendo usada como durex por todos lados, a cabeça pendida pro lado...
O clima era pesado, e eu no meu exoterismo pensei na energia ruim que pairava ali. Pensei em muita coisa, eu até me prometia a mim mesma que jamais deixaria que a rotina chegasse ao ponto de eu agir daquela maneira. Bem, mas tudo eram pensamentos meus, algo que ebulia internamente, mania minha.
Então o Bruno foi mais além e entendeu tudo. Ele virou pra mim e disse:
- Ela não tá feliz?
Desejei que a moça tivesse escutado. Que ela ouvisse aquilo e tomasse uma atitude.
Pendurei a pergunta na minha gargantilha, para olhar de vez em quando no espelho e lembrar da lição, como um checkup da saúde da alma.
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domingo, 1 de novembro de 2009
Bixadores e fim do horário de verão
O Bruno não se conforma com os pixadores. Cada vez que passa por uma pixação já começa:
- Essa não. Bixado (sic)! Esses meninos não deveriam bixar. Eles deveriam pintar num papel bem grande. A mãe deles deveria dar uma bronca neles. Acho que eles são uns ladrões.
- Ih, Bruno, acho que os ladrões são ocupados demais roubando, acho que eles não iriam pixar não.
Outra coisa que deixa ele inconformado é a hora em que o sol se põe. Aqui na Espanha acabou o horário de verão, e pra explicar?...
- Então, Bruno, é que existem umas pessoas que decidem que se deve mudar o horário do relógio porque se diz que se economiza energia elétrica.
Aí danou-se... o menino ficou irado:
- O quê?!?! Eu acho que eles são uns chatos!!! Eu acho que esses meninos que bixam e esses meninos que ficam brincando de mudar a hora do relógio são uns ladrões!!... dos que não estão ocupados. Eles não sabem que se mudam a hora do relógio fica de noite mais cedo e eu tenho menos tempo pra brincar???
Bem, mas parece que ele achou uma solução. Agora mesmo seu pai acaba de me informar que estava contando uma história de monstros para ele. Um deles comia meninos malvados.
- Esse monstro podia existir de verdade, pai. Assim ele podia comer esses meninos que ficam bixando.
- Essa não. Bixado (sic)! Esses meninos não deveriam bixar. Eles deveriam pintar num papel bem grande. A mãe deles deveria dar uma bronca neles. Acho que eles são uns ladrões.
- Ih, Bruno, acho que os ladrões são ocupados demais roubando, acho que eles não iriam pixar não.

- Então, Bruno, é que existem umas pessoas que decidem que se deve mudar o horário do relógio porque se diz que se economiza energia elétrica.
Aí danou-se... o menino ficou irado:
- O quê?!?! Eu acho que eles são uns chatos!!! Eu acho que esses meninos que bixam e esses meninos que ficam brincando de mudar a hora do relógio são uns ladrões!!... dos que não estão ocupados. Eles não sabem que se mudam a hora do relógio fica de noite mais cedo e eu tenho menos tempo pra brincar???
Bem, mas parece que ele achou uma solução. Agora mesmo seu pai acaba de me informar que estava contando uma história de monstros para ele. Um deles comia meninos malvados.
- Esse monstro podia existir de verdade, pai. Assim ele podia comer esses meninos que ficam bixando.
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