sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Manifesto por adultos mais felizes

Ultimamente ando me sentindo na puberdade de novo, com a sensação de ver o encantamento da infância derreter entre os dedos.
(...)
Ah! Não, calma, a infância do Bruno vai bem. Minha dor é com os adultos mesmo. Com os sentimentos à flor da pele, percebo que prolifera um tipo de adulto que eu não quero que o Bruno seja e eu mesma não quero ser.
Digo que me sinto de novo na puberdade porque eu me lembro claramente de estar na 6a. série e ser pega de surpresa no meio de uma aula pela descoberta de que as pessoas estavam com os corações congelados. E ando com a mesma doída sensação.

Pais que põem a pressa à frente da demonstração de carinho. Quanto tempo se economiza ao não se dar um beijo e um sorriso ao filho na entrada da aula?

Pais que põem a pressa à frente do respeito pelo próximo. Por que eles acham que as crianças se tornam cegas no trajeto matutino de carro?

Há também os pais que são ditadores populistas. Os que distribuem beijos e se fazem sorridentes enquanto obrigam o filho a comer tudo o que há no prato, mesmo que ele não possa mais.

Mas admito que amor de pais é algo tão grandioso que, no ato de desejar toda a felicidade do mundo para o futuro do filho, acabam se rendendo às "exigências" da sociedade "moderna" e simplesmente não conseguem enxergar que ele tem direito a uma infância inteira a ser vivida agora, no pobre coitado do Presente mesmo.

Não duvido que os pais amam enlouquecidamente seus filhos. O que falta é deixar-se derreter pelo sorriso das crianças. E elas são fortes. Meu Deus, como são. Mesmo sob os mais rígidos comandos dos adultos, elas têm a ousadia de manter os olhos brilhando com ganas de brincar. E daí é que os adultos continuam achando que está tudo bem mesmo.

"Seguir o que diz o coração" também vale para criar filhos. Não é muito fácil escutá-lo, porque até mesmo na escola há muito ruído, há ruído por toda a parte e dentro de nossas cabeças há um zum-zum-zum que se diz racional e que teima em nos fazer acreditar que é o dono da verdade.

É fato consumado que o que somos na infância é a base do que seremos no futuro. Então, por que raios só se pensa no futuro? O futuro não chega nunca, sempre haverá um futuro. Por que encher a cabeça de uma criança de informações e tirar-lhe a vontade de aprender? Por que estimular seu raciocínio e não deixá-la pensar no que lhe interessa? E até mesmo: para que serve - pra quêee??? - estimular a criatividade se não há tempo para brincar?

Não dá para exigir que o mundo seja diferente se o que se formam são adultos tão tristes quanto os de hoje.

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(E não é que agora, depois deste post, descubro que hoje é o Dia Universal das Crianças, que a Declaração dos Direitos da Criança faz 50 anos e que a Convenção dos Direitos das Crianças faz 20? Uhmm... algo me cheira a esperança!)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Mal saiu da barriga e já lê!

Nós olhamos o Bruno hoje com 5 anos e reconhecemos o mesmo bebê que se apresentava na TV dos ultrassons, quando ainda havia bastante espaço para nadar.
E agora estamos emocionados vendo-o ler frases inteiras. Foi tudo tão rápido que antes que postássemos a primeira palavra que ele leu na nossa frente (que foi "papai", preciso ser justa), ele já havia começado a ler frases. É lindo.
Semana passada, na hora de dormir, ele leu o título de um livro. Ficou cansado com o esforço, mas foi um momento muito significativo para nós. E ainda terminou dizendo assim, para se assegurar de que havia acionado o botão "lágrimas":

- Mamãe... acho que eu lembro de como era gostosinho estar dentro da sua barriga...

E ontem ele já estava lendo algumas frases inteiras, deste livro:

Nós - Eva Furnari, Global Editora

Você conhece? É um refúgio para aqueles momentos em que dá vontade de enterrar a cabeça feito avestruz. A Eva Furnari é mestra em tratar de assuntos do fundo da alma com um delicado humor e um delicioso non-sense. Em Nós ela experimenta a técnica do pastel ao invés da aquarela, como se estivesse mudando de estilo junto com a mudança de vida da protagonista, a Mel.
Nesse livro, os moradores de Pamonhas viviam caçoando de Mel porque ela era diferente, vivia rodeada de borboletas. Clique na imagem para poder ler um trechinho:


E nessa hora o Bruno mostrou mais uma vez como desaprendemos a ser como deveríamos ser conforme viramos adultos:

- Ela não deveria fugir. Quando alguém faz algo que nos deixa tristes, temos que chorar na frente deles e bem alto para saberem que não gostamos.

domingo, 1 de novembro de 2009

Bixadores e fim do horário de verão

O Bruno não se conforma com os pixadores. Cada vez que passa por uma pixação já começa:

- Essa não. Bixado (sic)! Esses meninos não deveriam bixar. Eles deveriam pintar num papel bem grande. A mãe deles deveria dar uma bronca neles. Acho que eles são uns ladrões.

- Ih, Bruno, acho que os ladrões são ocupados demais roubando, acho que eles não iriam pixar não.
Outra coisa que deixa ele inconformado é a hora em que o sol se põe. Aqui na Espanha acabou o horário de verão, e pra explicar?...

- Então, Bruno, é que existem umas pessoas que decidem que se deve mudar o horário do relógio porque se diz que se economiza energia elétrica.

Aí danou-se... o menino ficou irado:

- O quê?!?! Eu acho que eles são uns chatos!!! Eu acho que esses meninos que bixam e esses meninos que ficam brincando de mudar a hora do relógio são uns ladrões!!... dos que não estão ocupados. Eles não sabem que se mudam a hora do relógio fica de noite mais cedo e eu tenho menos tempo pra brincar???

Bem, mas parece que ele achou uma solução. Agora mesmo seu pai acaba de me informar que estava contando uma história de monstros para ele. Um deles comia meninos malvados.

- Esse monstro podia existir de verdade, pai. Assim ele podia comer esses meninos que ficam bixando.