quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Ai... dormir é tão chato...

Olha só a prova de que, no fundo, no fundo, as crianças apreciam os limites que os pais lhes impõem:

Estava terminando de colocar pijama no Bruno e ele começou a resmungar melodramático:

- Mas... por que, por que eu sinto isso??? É que... é que eu não quero dormir, dormir é chato.

- Pois olha Bruno, você sente isso porque você saiu de mim, eu também sou igualzinha. Eu queria que o dia fosse mais comprido pra eu poder fazer mais coisas.

Ele virou de costas e caminhou dizendo:

- Ah, mãe, seja uma adulta.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Noção da essência

Acabei de inventar uma historinha e contei para o Bruno na hora de dormir. Fui contando, contando, e ele lá, rolando de um lado para o outro tentando achar uma posição confortável para seu cérebro se acomodar. Até que ficou quietinho, quase dormindo, quando chegou a hora mais "tensa" do enredo. Ele levantou a cabeça e protestou que a história não podia ter partes tristes. E completou falando sobre a personagem:

- Ela está gastando tudo, ela não sabe que o que ela quer na verdade é ser igual quando ela era criança!

Pois é, ele adivinhou o final da história. E eu tive que crescer pra saber que o que eu sempre quis era ser como eu era quando era criança.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Questões existenciais

O Bruno adora um software que se chama Mundo da Criança. Mas o software está com bug e então eu lhe disse que escrevi um e-mail pedindo para consertarem. Ele ficou me perguntando quando é que o moço iria vir em casa para consertar, apesar de eu lhe dizer que eles iriam consertar de lá do escritório deles.

E hoje foi um moço em casa para fazer um reparo no encanamento...


sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Meu sonho é...

Ontem eu estava correndo pra dar banho no Bruno antes de ir para minha aula e disse para ele que ele ia ficar com a avó. Ele começou a chorar, dizendo que não queria que eu fosse, que ele ia ficar sozinho, piriri, pororó.

- Buáaaaaaa, mas se você for pra sua aula de yoga...

- Não, hoje tenho aula sobre desenho de livros. Porque você sabe, né, meu maior sonho é desenhar livros de histórias. Então vou estudar bastante pra desenhar livros e contar essas histórias pra você.

Nessa hora ele parou de chorar e disse:

- E o meu... o meu sonho é BRINCAR!

Puxa, e eu que achava meu próprio sonho tão bonitinho... Acho que vou mudar para "meu sonho é que todos tenham seus sonhos de brincar"

Eba! Ganhei uma camiseta suja!

Inspirada no fedozinho do meu filhote, participei de um concurso no site de um famoso sabão em pó e fui uma das 100 classificadas, êee! O primeiro lugar ganhou um playground de madeira e as demais 99 (eu, inclusive), meio quilo de sabão e uma camiseta suja (sim), êee!
Bom, pelo menos ganhei assunto pra postar, né?
O meu texto sujinho foi este aqui:

Tenho um medidor de contentamento-de-filho: seu nível de sujidade. Se ele estiver imundo o suficiente para ter que tirar a roupa sobre o capacho, é porque a brincadeira foi boa. Geralmente o alto grau de imundice vem agregado a um grande sorriso na cara e a um intenso brilho nos olhos.
Quando ele visita o sítio onde eu cresci, até seu cheiro muda. Ao chegar, já ganha carimbos de patas de cachorro. Da horta, ele traz verduras que ele mesmo colheu. Em seguida mostra, nas suas mãos em concha, uma codorninha que conseguiu pegar depois de se aventurar na serragem da granja. Então aparece aquela vontade louca de abraçar cachorro da roça. Por fim, ele libera seu lado de garoto urbano e imita super-heróis rolando no quintal de barro.
Ao entardecer, surge no horizonte meu menino com cheiro suado de contentamento de criança e aquele sorriso branquinho em meio às bochechas gordas e sujas. Upa, é a primeira estrela da noite? Não, é o brilho de felicidade nos olhos do meu filhote.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Jeito esquisito de se gostar

O Bruno adora o desenho Ben 10. Nessa semana ele não entendia... como é que pode o Ben e a Gwen, que são primos, se odiarem tanto? Expliquei para ele que eles não se odiavam, que eles se amavam mas que brigavam muito e que acabavam dizendo um pro outro que um odiava o outro.
E me perguntou diversas vezes, ele não se conformava.
Até que eu disse:
- Você não diz de vez em quando que a mamãe só te irrita?
- É.
- E você me odeia?
- Não, eu te amo.
- Então, com eles é a mesma coisa.
- Aaahh...
Então ele descobriu a América. E de repente todos os desenhos além-discoveryKids fizeram sentido.
- Mãe! A Yin e o Yang - do Yin Yang Yo - são irmãos e se gostam do mesmo jeito que a Gwen e o Ben!
- Mãe! O Cosmo e a Wanda - dos padrinhos mágicos - também têm o mesmo jeito de gostar da Gwen e do Ben e da Yin e do Yang!

Ôooo mundinho complicado esse heim? Ó só as coisas que temos que aprender...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sinais de paixão

Um dia o Bruno estava num banheiro público comigo e eu o levantei enlaçando o peito para lavar as mãos. Ele disse:

- Aaaai mãaae, assim meu coração vai explodiiiiir!

Essa semana o Bruno está com eritema infeccioso, que deixa as bochechas bem vermelhas. Ele se olhou no espelho e disse:

- O quê? Eu estou com as bochechas vermelhas?! Essa não... assim vão achar que eu estou apaixonado!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Pense no que você não vai fazer

Há muito tempo atrás, acho que quando o Bruno tinha 2 anos, ele fez um cocô bem bonito no penico e ficou olhaaando... até que ele colocou as mãos para trás e me disse:

- Eu não vou lamber, tá?

Nesse fim de semana ele virou pro Ricardo e disse:

- Papai, eu não fiz xixi na gaveta, viu?


Tanta coisa que a gente não-faz, né? É... lamber cocô não dá mesmo, mas quantos xixis nas gavetas nós deixamos de fazer só porque não é usual? Metaforicamente falando, às vezes vale a pena limpar uma baguncinha só para experimentar como é a sensação de ver o xixi escorrendo num recipiente retangular que depois a gente empurra e fecha.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Homem atômico chegou!

Vocês já leram o Homem Atômico chegou!, da Mini Grey, pela Cosac Naify? É a história de um boneco tipo super-herói que vive as aventuras imaginadas por um menino no cotidiano. O livro é lindo, mas tem uma parte que faz a gente pensar em como nos tornamos adultos terríveis sem perceber.


O Ricardo contou a história para o Bruno pela primeira vez e instantaneamente ele percebeu a imaginação do menino em suas brincadeiras e se identificou:


Então o menino foi passar o natal na casa da avó, que carinhosamente preparou a casa de maneira que julgava aconchegante e mais carinhosamente ainda fez meias de presente para toda a família. Até o Homem Atômico ganhou um conjuntinho verde tricotado. Como é de costume na nossa sociedade modernoza, o estilo de vida dos mais idosos foi ridicularizado.

E o Bruno perguntava pro pai, ele não entendia, não se conformava... por quê estavam todos rindo do Homem Atômico? Isso é mais uma prova de como acumulamos preconceitos conforme crescemos.


Sabe como o Homem Atômico se livrou do traje? Ele salvou umas colheres e desfiou a roupa todinha até virar uma sunga... O Homem Atômico sai vitorioso e a cara da avó não é mostrada depois do ocorrido.

Muitos dias depois, quando já tínhamos até esquecido desse livro, o Bruno me pediu para fazer um cachecol verde e um gorro laranja. Comecei pelo cachecol e ele curtiu à beça vê-lo sendo tricotado, crescendo nas agulhas.


Esse post me deu saudade das doçuras que minhas avós deixaram de lembrança pra mim... conversas com uma pitada de amargura sobre meus avôs, cristaleiras cheias de lembrancinhas de casamento, abóboras kabotchá, tapetinhos de crochê, me cobrir na soneca da tarde até eu suar...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O que você vai ser quando crescer?

Um dia o Bruno estava no penico quando me chamou

- Mãaaaaaaaaaaaaae. Mãaaaaaaaaaaaaaae.

E perguntou:

- Mãe, Power Rangers existem?

- Não filho, eles são pessoas fantasiadas.

Ele ficou frustrado e indignado:

- O quê?! Essa não, Power Rangers não existem?? Não, não pode ser, eles têm que existir, porque eu quero ser Power Ranger quando eu crescer!!

E sabe que o Ricardo vive dizendo que não adianta especularmos o que o Bruno vai ser quando crescer porque a profissão dele é uma que nem existe ainda?
Tanto é que um dia estávamos conversando sobre profissões, falando que o Ricardo é engenheiro, que eu sou desenhista, e que para escolher uma profissão temos que pensar em algo que nós gostamos muito de fazer. Daí caímos na fatal pergunta:

- E você, Bruno, o que vai ser quando crescer?

E sabiamente ele respondeu, fazendo explodir mil pensamentos na minha cabeça sobre profissões, trabalho e maneira de viver:

- Eu vou ser brincalista!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Taí uma coisa que nunca pensei em pensar

Olha, já vou avisando que somos uma família bonitinha e engraçadinha, antes que você leia mais este post mórbido e imagine morcegos sobrevoando em nossa sala.

Eu estava trazendo o Bruno de volta da escola, que estava entretido em seus pensamentos quando de repente disse:

- Mãe... mas se você morrer... onde é que eu vou enterrar você??

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Aconchego

Era hora de dormir, vento assobiando, muito frio. O Bruno já estava com tanto sono que tomou o leite de olhos fechados infurnado no cobertor. Peguei um livro novo e comecei a ler. Ele se aconchegou no travesseiro e me pediu:

- Conta uma história que eu já conheço, tá?

Comecei a ler uns poemas dos quais ele já é bem amigo e logo deu pra ver a barriga dele subindo e descendo tranqüila...

De vez em quando eu fico na maior ânsia por vivenciar e criar novidades (tipo agora), só que com a Internet é muito instantâneo receber informação nova. Então caio no desespero por não saber e nem fazer tudo o que há de diferente de mim. Hoje, por exemplo, fiz meu primeiro rabisco em acrílico.



É hora de seguir os ensinamentos do Bruno, preciso de uma história que eu já conheço.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O que é cuidar bem?

No sábado eu estava agarrando o Bruno numa demonstração de carinho típica materna quando ele me disse:

- Mamãe, assim você não está cuidando bem de mim.
- Ah é? E o que é cuidar bem de você?
- Cuidar bem de mim é me deixar livre.

Dei mais risada quando ontem eu virei a folhinha do meu calendário:


segunda-feira, 15 de setembro de 2008

E se todos os adultos do mundo morrerem?

Certa noite eu estava lendo para o meu filho, sentado ao lado de sua cama. Ritual de quase todas as noites. Ele estava quase pegando no sono, com os olhinhos quase fechando quando, de repente, ele pôs-se sentado e me perguntou: "Pai, e se todos os adultos morrerem?".
A questão me pegou totalmente desprevenido. A história que eu estava lendo para ele não tinha nada relacionado a morte ou a qualquer outra coisa que pudesse ter despertado aquele questionamento.
"Os adultos não vão morrer todos de repente, meu filho" - falei sem gostar muito da minha própria resposta. Que garantia eu tinha para assegurar que os adultos não vão morrer todos de uma hora para outra? (Vai que o acelerador de partículas da CERN cria um buraco negro??)
"Pai, se você e a mamãe morrerem, eu não vou conseguir alcançar o botão do elevador para voltar pra casa."
"Não se preocupe meu filho, sempre vai ter alguém cuidando de você."
Ele voltou a deitar e, 2 segundos depois, dormiu.
Às vezes a gente precisa da certeza de que sempre haverá alguém ao nosso lado para apertar os botões muito altos...