terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Lição de casa na hora de dormir

- Bruno, é hora de dormir.

- Tá bem. - e sai cantando, sossegado, levando a pasta com a lição de casa para o quarto.

Ontem foi daqueles dias em que a gente tem que reprimir a vontade de dar um beijo e elogiar, em troca de uma bronca construtiva, dessas que a consciência diz que precisa mas que dá preguiça porque tira o sossego da casa. 

É bonitinho de-mais da conta ver um toquinho de gente indo fazer lição de casa ao invés de ir dormir.  Mas é bonitinho pra nós, adultos, que sempre preferimos dormir ao invés de fazer um trabalho que levamos pra casa.  O Bruno sabia que tinha lição, sabia que não poderia fazer lição na hora de dormir e mesmo assim deixou para a última hora.  Ora, vejam só!  Seria bastante vantagem: de tarde, poderia brincar.  Ao invés de trocar brincadeira por lição de casa, muuuuito mais vantajoso trocar por tempo de dormir, que é chatíssimo.  Assim a tarde rende, a hora de dormir é adiada e a lição é feita.

- Bruno, agora é hora de dormir, a lição deveria ter sido feita antes, você vai ter que levar sem fazer.

- Mas eu posso levar bronca da professora!

- Amanhã você explica pra ela, agora é hora de dormir.

Ele chorou muito, muito sinceramente, desesperado por imaginar a decepção da professora.  O choro nem saía direito, engasgava.  Estava se sentindo muito mal pela estratégia frustrada, por ter faltado com uma obrigação, por sentir que iria decair em frente aos olhos da professora.  A vontade era de dizer que ele não precisava chorar, que o mundo não ia acabar, que a professora entenderia, que era só marcar um x na coluna de "não fez" e pronto, tudo ia passar.  Mas a postura de estudante está na nossa listinha de metas.  Pena ser tão sofrida essa fase em que a aprovação do adulto é tão importante...

Enfim amolecemos.  Confesso, amolecemos. 

- Esta então será a última vez que você vai fazer lição na hora de dormir.  Da próxima vez que acontecer, a lição vai em branco para a escola.

Antes de ter filho, jamais pensei que esta seria uma bronca verossímil.  Eu sei que alguém pode estar lendo e pensando: "mas o menino que fazer lição de casa, que mal tem??  Deixa ele fazer, vai desestimular o menino a estudar!".  Só que para cumprir suas responsabilidades ele não pode barganhar, não pode significar o descumprimento de outras.  E saúde é uma prioridade, sim.

Fez a lição, feliz.  Veio mostrar, orgulhoso.  E ainda tentou ler um gibi escondido antes de dormir.

- Boa noite, Bruno, você fez lição de casa na hora de dormir, perdeu o tempo de leitura.

- Aaah.... mas ler é a coisa mais divertida que eu tenho pra fazer na hora de dormir...

Antes de ter filho, nunca, jamais imaginei que poderia ser possível  não deixar um filho ler porque fez lição de casa na hora de dormir...

(...)

Mas que dá vontade de apertar a bochecha, isso dá!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Volta às aulas



Depois destas férias de verão geladinhas de muuuuito gibi da Mônica, chegou a hora de voltar às aulas.
Ainda bem que a lista de materiais era pequena, porque esse ano tivemos que renovar também a mochila e a lancheira.  Eu e o Bruno andarilhamos pela cidade molhada em busca dos materiais escolares. Doidera levar o filho pra comprar material junto?  Olha, tenho que dizer que estou pra lá de orgulhosa, prepare-se que esse sim, vai ser um post de mãe coruja.

A primeira compra foi um estojo. Primeiro, ele fugia do cor-de-rosa e em seguida ia olhando primeiro as etiquetas.  Escolheu uma que custava menos da metade das outras.  Perguntei:

- E aqueles outros estojos do ano passado, Bruno, precisam ser trocados também?

- Não, mãe, eles estão ótimos.

- Olha, Bruno, este aqui é bacana.

Ele nem olhou para o Homem Aranha supimpa no tecido brilhante.  Incrível como brilham os materiais escolares hoje em dia.  Ele viu a etiqueta:

- Mãe... esse aqui que eu escolhi é muito mais barato!  Vamos levar este!

E o preço das mochilas e lancheiras, você viu???  Que absurdo.  Levei ele para escolher uma mochila sem personagem e ele topou com todo o gosto.  A lancheira ia ter personagem, essa foi a troca.  Procuramos, procuramos, bastante mesmo, até que me rendi e comprei aqui perto, porque os preços estão todos iguais.  Ele olhou a prateleira de lancheiras, fugiu das cor-de-rosa e começou a olhar os preços.

- O quê?!?!?!  Isso é o preço de uma lancheira?? 

Não, o comentário não foi meu, foi dele.  A vendedora arregalou os olhos.

- Mãe, você acha que os preços das lancheiras estão justos nessa loja?

Expliquei que já tínhamos procurado bastante, que os preços estavam todos parecidos em todas as lojas e que iríamos comprar ali mesmo.  Dei para ele escolher 3 lancheiras.  Pensou um pouquinho e se decidiu.  Pronto.

A vendedora estava pasma.  Disse que nunca em todo seu tempo na papelaria tinha visto uma criança com tanta consciência.

Mesmo sendo exagero dela, eu tenho que demonstrar meu orgulho em ter um filhote que está se salvando do consumismo.  A cerejinha do bolo foi numa outra loja, num outro dia de chuva: ele nem ligou em escolher as capas dos cadernos, um mais televisivo que outro.  Afinal desenho animado é pra assistir, não pra ficar comprando, certo?  Mas quando viu a bancada de dicionários... o olho dele brilhou, começou a contar de Fulano do outro ano que tinha um dicionário, ajudou a escolher, a procurar...

- Vê quanto custa esse, mãe.

E em casa, a primeira coisa que quis ver foi ele.

- Cadê, cadê, cadê meu dicionário?  [Olhos arregalados, sorriso gigante, facho de luz saindo de dentro do dicionário]  Uuuuuuu, dicionáaaario!!  Eu tenho um dicionário!!