domingo, 30 de junho de 2013

Momento mágico do lençol branco

Eu ainda não tenho coragem de levar o Bruno para uma manifestação.  Mas também não podia deixar passar batida aquela segunda-feira marcante da história de nosso país.  Foi uma segunda em que até o ar da manhã estava diferente, afoito, ansioso pelas badaladas das 17h.

Então peguei o lençol branco e andei de uma janela a outra do apartamento, até encontrar uma em que ela ficasse bonitona balançando ao vento do décimo oitavo andar.

O Bruno até tentou se manter indiferente em meio aos seus games, mas não é sempre que a mãe se põe a colocar um lençol branco na janela por causa de uma notícia da TV.  Algo diferente estava acontecendo, ele sabia.

- Olha, Bruno, toda essa gente está se reunindo para uma manifestação.

- Deixa eu ver quem mais colocou lençol branco na janela. (...) Xii, mãe, nós somos os únicos aqui do nosso condomínio.

- Não tem problema não, Bruno, a gente faz nossa parte.

Uma parte tão pequena, eu sei, naquele momento era uma participação muito miúda.  Só que eu sei, eu realmente acredito que assim, pequenininho, estou participando de uma maneira grande sim, formando um cidadão.

- Olha mãe, já estão contando que são 40 mil!

E juntando um pequeno cidadão aqui e outro acolá, de repente temos uma nação que cresce.

- E no Rio de Janeiro já são 100 mil!!!

E assim, simbolicamente, o Bruno guardou com carinho sua participação naquela segunda-feira de manifestações.  Acompanhou maravilhado a multidão tomando as ruas do país, mostrou  com entusiasmo ao pai o lençol branco balançando no escuro, contou-lhe sobre os números de manifestantes  - que na hora não importava se eram 65, 100 mil, um milhão.  Eram muitos.

Aquele dia, naquele dia, eu sei que não foi nada.  Só que eu acredito que esse esporo de cidadania um dia vai eclodir da memória, em forma de força extra para fazer a sua, a sua parte, na confiança sobre a união de forças, numa luta que pode parecer solitária olhando daqui da janela.

Amanhã vai ser maior.  Tudo começa pequeno. Amanhã vai ser maior!...

quarta-feira, 5 de junho de 2013

9 anos: xeque-mate


9 anos!... Quando foi que tudo isso aconteceu? Se quando o Conversa de Penico começou ele era campeão de frases fofas, hoje ele é um grande estrategista nos argumentos.
(Psiiiu... não conta pra ele que eu continuo achando ele fofo... é meu filhote, vou fazer o quê?!?!)

Ele andou uns dias testando até onde ia nosso limite quanto aos seus horários.  Apesar de ser responsável por administrar seu tempo para fazer lição de casa e suas tarefas, andava adiando, adiando, até que chegou o dia em que eu disse que era hora de dormir e só então ele foi fazer lição. Aí pegou.

- Bruno, você não está mostrando que tem responsabilidade pra controlar seus horários.  A partir de agora, eu é que vou controlar seus horários.

- O quê?? Eu vou ter que seguir os horários que você mandar?

- Sim. Só vai brincar e assistir TV depois de fazer todas as suas tarefas.  E pra ter de volta sua liberdade com os horários, vai ter que me provar que é responsável o suficiente pra isso.

Uhm. Pra quê, né?

- Mas mãe!... se eu não posso controlar meus horários, como é que eu vou poder provar que posso controlar meus horários?!?!

Não adianta, não há espaço para deslizes. Sempre há uma brecha na legislação que ameaça a ordem.

Por outro lado, com tanta maturidade, ele também toma conta de mim:

- Mãe... o que você tem? Você tá bem? - ele disse, meio alarmado

- Tô sim, Bruno.  Só tô com sono, muito, muito sono.

E fui para o computador.  O Bruno veio atrás.

- Mãe!!!  Se é só facebook, vai dormir!!!

E assim, de xeque em xeque, vamos entrando na pré-adolescência.  E eu fico aqui pensando até quando será que vou continuar achando ele um fofo...