quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E passou o dia das crianças...


Passou o feriadão e o dia das crianças.  Hoje foi mais difícil acordar de manhã, a água da torneira estava gelada.  Não, não é justo levantar cedo e só conseguir começar a trabalhar duas horas depois... meu escritório é em casa!... Mochila, uniforme, lancheira, café da manhã, leite.  Chega, não dá mais para adiar, é hora de acordar o pequerrucho.

Lá no quarto, há uma criança dormindo com todo o seu ser.  Procuro seu pezinho debaixo do cobertor fofinho para ir acordando com uma massagem.  Acho um pé de moleque, nem é assim pequeno.  E aí o tempo pára... a correria cessa...

Toda manhã é igual: eu sempre me surpreendo com o pé dele que é maior do que me lembrava.  E a mão também...  Aproveito esse mini-instante de contemplação para comparar o tamanho da mão dele com a minha.  Sempre é maior do que tenho na memória.

Ele está crescendo.  Já trocou dois dentes, lê, escreve, aprecia Clarice Lispector, planta bananeira, joga xadrez.  Eu nem sei mais por quanto tempo terei assunto para este blog.  E sou tão agradecida por tudo que tenho aprendido, minha criança...

Outro dia me dei conta de que, de certa maneira, a maternidade foi responsável por muitos dos conhecimentos mais importantes que adquiri, inclusive profissionalmente.  Além dos ensinamentos diretos que recebi de meu filho, estudei muito para me tornar um ser humano um pouco mais capaz de criar uma boa pessoa para o futuro. Eu não deixo de colocar em meu Curriculum Vitae este item importante:  "Mãe".  Nem sei se quem o tem em mãos vai se dar conta da extensão desse aprendizado, mas fico na esperança de que sim.  Foram tantas vivências, tão ricas... para mim é muito claro como tudo contribui para minha profissão.  Seja ela qual for.

Bom dia, Bruno... que soninho, né?  Vem cá que eu te levo pra sala... ugh, que pesaaado.  Uma risadinha dorminhoca.

Uns minutinhos e pronto.  Acorda a criança, levanta a alegria, começa mais um dia.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Momento mágico da entrevista de gatos

Da nossa janela, uma noite de sexta-feira de marginal engarrafada. Quando finalmente a chave da porta gira, o Bruno se agita todo feito cachorrinho de estimação, procura um lugar pra se esconder e resolve virar uma pedra redonda bem no meio do caminho do pai.

Assim começa uma noite que se tranfosmará em momento mágico.

- Vamos brincar de gato-mia? - e o Bruno explica como funciona essa brincadeira que a gente tinha saudade e nem lembrava.

Ricardo de boca cheia de janta devorada, vai correndo alcançar a sobremesa e volta para a sala já escura.

- Gato mia!

E foi tudo tão, tão sinceramente divertido que "miau" se tornou uma palavra difícil de ser pronunciada às gargalhadas.

Fim da brincadeira, beicinho coletivo de quero mais.  3 gatos aninhados no sofá, a marginal já quase sem luz.  E eis que começamos uma brincadeira de entrevistas que só mesmo sem enxergar os olhos do outro.

- E como você acha que vai ser sua vida agora que você está sem dois dentes?
- Legal.  Vou impressionar os meus amigos.
- E por que você acha importante impressionar seus amigos?
- Não... eu não acho importante impressionar meus amigos, o importante é brincar com eles.
- E você fica impressionado quando um amigo seu perde um dente?
- Não.
- E quando perde dois dentes?
- Não.
- E três dentes?
- Ai!  Cuidado com meu olho roxo que levou um golpe muito forte do amigo na escola.
- E qual era seu brinquedo preferido quando você era criança? E qual sua comida favorita? Ah, essa pergunta é nojenta, não vamos falar disso.  E o que mais eu faço de legal além de trabalhar?  Contar piadas? Não me diga que eu contei uma piada? Acho que no começo eu ia achar estranho, mas depois eu iria me acostumar de ser careca.

E assim fomos nos entrevistando, com os balões de diálogo emaranhados no escuro do sofá, até não dar mais para segurar a vontade de fazer xixi.

E de lá do banheiro, ao invés de um "não quero dormir!  Dormir é chato!" saiu um gatinho de olhos caídos dizendo "mãaae, tô com soninho..."

Uma história repetida na voz de acalanto do pai e pimba.  Dormiu.  Mas ainda cheguei a tempo de dar um beijo e ganhar um enrosquinho final de gato adormecido... 

... boa noite...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Se fosse um filme não seria convincente

Cenário: 
Manhã ensolarada, céu azul-azul, jardim, flores, árvores, passarinhos, montanhas...

Personagens: 
Menino de 6 anos, mãe e pai.

Menino de 6 anos olha para o alto e diz:

- Como é bom existir!!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Pizza e cores

- Bruno, do que você quer a pizza?
- Eu quero de milho!!
- Hmmm, deixa eu ver... Vou pedir essa de milho verde com queijo, tá?
- Ah... Eu queria de milho amarelo...
:-)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Na luta pelos direitos das escovas de dente

Nesta noite, a história escolhida foi uma sobre a imigração no Brasil, uma revista em quadrinhos da Turma da Mônica.  Lá se contava que na Europa os operários estavam sendo substituídos por máquinas e que muita gente ficou desempregada, então vieram ao Brasil tentar uma nova vida.

Terminada a história, era hora de escovar os dentes.  Olhei para a escova e disse:

- Ih, Bruno, essa escova já está toda aberta, vamos ter que trocar.

- Você vai substituí-la? - o grifo é devido ao esforço que o menino fez para usar uma palavra que tinha acabado de ouvir no gibi.

- Sim, ela vai ser substituída.

- Mas ela não vai perder o emprego, vai???

Bem, sob protestos do sindicato acordamos que a velha escova de dentes seria realocada no setor de artes da casa.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Hã, o quê? Copa do Mundo?

Ahhh, Copa do Muuundo... todo o país enfeitado de verde-amarelo, a paixão pelo futebol que toma conta das ruas...


Bruno e Ricardo numa loja de artigos esportivos.  De frente para o uniforme canarinho, o pai tentou criar um pré-clima de torcida.

- Sabe de quem é essa camiseta?

- Errr... do São Paulo?

- Ó, leia aqui...

- [Braaasil...]  É do Brasil, pai.

- E esta aqui? - perguntou Ricardo orgulhoso apontando pra camiseta de seu time.

- [Reeebok.] É da Rebok, pai.

(Esclarecimento: na foto acima, o Bruno foi jogar futebol com o pai.  Em poucos minutos a pobre bola ficou de canto e a brincadeira virou guerra de alienígenas e depois uma tourada)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Momento mágico do chá

Uma fria e corriqueira noite de outono.  O fiel escudeiro oficial de videogame do Bruno ia chegar tarde, então eu assumi o controle reserva do Super Mario Galaxy 2.  Ao final, demos uma voltinha por sua nave espacial em forma de cara e vimos uma mesinha com chá posto para dois.  Uhhmm... fomos para a cozinha fazer um de verdade.


Preparamos o chá juntos, o que pode não parecer nada mas que já é uma gostosa experiência culinária para quem acaba de fazer 6 anos.  Cheirinho de gengibre no ar, o mel descendo em fio na xícara.  Um de cada lado da mesinha na cozinha, sentamos e tomamos nosso chá, devagar e conversando.  Cena pra lá de insosa para quem vê.  Aqui dentro é que tudo rolava.

Lembrei de quando ele almoçava no cadeirão, com o chão forrado de jornal.  Agora ele estava ali, na minha frente, tomando um chá e conversando comigo. Em seu copo plástico, lambendo o beiço com a linguinha de lado, mas tudo com uma aura cintilante.

Não sei se essa noite ficará guardada na memória do Bruno como um momento mágico, mas na minha vai.  Este é um daqueles flashes  que aparecem de repente na cabeça, nos tiram do ar por um instante e nos fazem sorrir.

Inesperado, simples, difícil de contar.  Um momento mágico com certeza...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Aniversário executivo

Claaaro que o Bruno está ansioso para seu aniversário.  Há um mês ele pediu que tivesse uma piñata e ao longo do mês já foi planejando outras brincadeiras.  Festa bem miudinha e caseira, menos de meia dúzia de crianças, e ele está curtindo os preparativos tanto, tanto... e eu também né, hehehe.  Quando eu era criança, montava barraquinhas imaginárias de jogos nas festinhas de aniversário na varanda de casa.  É tãaao divertido poder fazer isso com habilidade de adulto e pistola de cola quente!

Começamos a fazer a piñata, enchemos os saquinhos-surpresa, desenhamos o cartaz do burro (aquele famoso, que não tem rabo), reciclamos uns enfeites e montamos um jogo com uma caixa de papelão. 

E ele me disse que queria participar de tudo, que não era para eu fazer nada sozinha.   E que achava que tinha que testar todos os jogos. Também começou a falar que precisaríamos ter uma ordem certa para as brincadeiras. Eu só não esperava um profissionalismo tão grande:

- Sabe, antes da minha festa vai ter uma reunião.  Vai ser uma reunião para dizer aos convidados qual vai ser a ordem certa das brincadeiras!

sexta-feira, 30 de abril de 2010

O aluno ensina

Ontem o Bruno estava a mil com sua produção filosófica, então aqui vai outro post no mesmo dia:

Estou fazendo pós graduação em Educação, um curso que se chama "As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral".  Para mim é tudo novidade, pois não tenho formação em Educação.  Estava estudando os textos do primeiro módulo e vi que tradicionalmente se pensa que o professor ensina e o aluno aprende.  Há também os que defendem que o aluno aprende e que o professor não deve interferir.  Mas sob os conceitos do construtivismo, a educação se dá numa via de duas mãos, o professor ensina e o aluno aprende, mas também o professor aprende e o aluno ensina.  E só quando o professor aprender do aluno é que ele será capaz de ensinar plenamente.

Deixei o texto de lado e fui lá ser mãe:

- Bruno, é bom fazer a lição de casa.

E ouço:  Grrrrrr... Plaf, Pum, Grrrrrrrrr, eu não quero! Pof, catapof, Grrrrr!

- Ô mãe!! Eu ainda estou nervoso.  Você precisa me acalmar!  Quando eu não consigo me acalmar sozinho você me ajuda, é assim que funciona!!

- Olha Bruno, você precisa aprender a controlar sozinho a sua raiva e blá blá blá blá... - até que num dado momento ele estava no meu colo - blá blá blá... Está calmo agora?  Vamos fazer lição?

- Vamos!

Terminado, ele estava orgulhoso por ter resolvido o desafio e eu pude continuar meus estudos.   Ele estava tão contente que foi guardar a pasta cantarolando:

- Eu adooro a minha escoooola!  Lá eu aprendo um montãaaao e a professora ensiiiiiinaaaaa e apreeendeee!

(!!!!)

Leitura de mãos manejando durex

Ontem fomos comprar presentes de aniversário para amigos do Bruno.

A vendedora fez os pacotes com uma má-vontade nota 10. Não era falta de jeito, na qual não há problema algum,  era falta de vontade mesmo.  E como aprecio a arte de fazer pacotes, estava cheia de comichão ao ver aquelas mãos que mal conseguiam levantar do balcão e que baixavam tombando sobre o pacote, o durex grudado torto onde não era pra ter durex, etiqueta da loja sendo usada como durex por todos lados, a cabeça pendida pro lado...

O clima era pesado, e eu no meu exoterismo pensei na energia ruim que pairava ali.  Pensei em muita coisa, eu até me prometia a mim mesma que jamais deixaria que a rotina chegasse ao ponto de eu agir daquela maneira.  Bem, mas tudo eram pensamentos meus, algo que ebulia internamente, mania minha.

Então o Bruno foi mais além e entendeu tudo.  Ele virou pra mim e disse:

- Ela não tá feliz?

Desejei que a moça tivesse escutado. Que ela ouvisse aquilo e tomasse uma atitude.

Pendurei a pergunta na minha gargantilha, para olhar de vez em quando no espelho e lembrar da lição, como um checkup da saúde da alma.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Espanha, Brasil e amizades

Voltamos ao Brasil!  :-D

Fisicamente já faz quase 1 mês, mas talvez emocionalmente ainda estamos nos trasladando.  Ao mesmo tempo em que estamos felizes por estar perto de nossas famílias e de nossos valores, há a tal da readaptação que todos comentam.  É como uma planta num vaso: enquanto ela cresce dentro de um determinado vaso, está tudo bem, porque ela cresce moldando-se a ele.  Mas se ela é retirada desse vaso, passa um tempo em outro vaso e depois é colocada novamente no antigo vaso, não se encaixa mais.  É preciso cortar uns tequinhos da raiz aqui, colocar um pouco de terra acolá, pra ficar ajustadinho.  Bom, isso falando de planta velha, né, que tem aquelas raizonas quase saindo pelo buraquinho de drenagem...

Já o Bruno mudou de vaso e continuou verdejante.  Encarou com seu sorriso de sempre o encontro com sua nova-velha-vida.  Suas folhas já crescem bastante com o clima tropical úmido e quente.

E acho que descobri seu segredo: sabiamente, seu coração é escancarado à amizade.  Isso o faz crescer forte em qualquer vaso.  Ele reencontrou seus amigos com uma felicidade imensa, com muitos abraços.  

Por outro lado, ontem o Bruno lembrou-se de seus amigos espanhóis:

- Como estarão passando meus amigos na Espanha?

(Precisava ver o livro com a coletânea dos desenhos que cada amigo seu fez como despedida lá na Espanha... imagina o quanto eu chorei.)

Eu gostaria de ter um raio-X de sentimentos para saber tudo o que acontece dentro desse coração tão gigante, que abraça sua vida sempre com tanta alegria, seja num canto ou outro.  Tenho aprendido tanto com ele!

Essa é uma: antes de voltar, em meio à mega-confusão da mudança, eu disse ao Bruno que não aguentava mais estar ali.  E o Bruno disse:

- Mas por quê?  Se você aqui tem até amigas...

Minhas pernas trançaram, ele tinha toda a razão.   Vou me fazer essa pergunta toda vez que estiver irritada com coisas (e não-coisas) amontoadas à minha volta.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

La paz

Dia 28 as crianças comemoraram o dia da Paz na escola.  Dentre várias coisas que o Bruno não contou descobri que cada um disse o que significava a paz e ele disse:

"Para mí la paz es amor"

Que lida assim, de repente, pode parecer nada.  Mas depois de assistir Zeitgeist e a entrevista com Chris Hedges percebemos como é difícil explicar para os adultos de maneira que entendamos.


(Hihi, este coelho me lembrou muito o Liniers)