sexta-feira, 30 de abril de 2010

O aluno ensina

Ontem o Bruno estava a mil com sua produção filosófica, então aqui vai outro post no mesmo dia:

Estou fazendo pós graduação em Educação, um curso que se chama "As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral".  Para mim é tudo novidade, pois não tenho formação em Educação.  Estava estudando os textos do primeiro módulo e vi que tradicionalmente se pensa que o professor ensina e o aluno aprende.  Há também os que defendem que o aluno aprende e que o professor não deve interferir.  Mas sob os conceitos do construtivismo, a educação se dá numa via de duas mãos, o professor ensina e o aluno aprende, mas também o professor aprende e o aluno ensina.  E só quando o professor aprender do aluno é que ele será capaz de ensinar plenamente.

Deixei o texto de lado e fui lá ser mãe:

- Bruno, é bom fazer a lição de casa.

E ouço:  Grrrrrr... Plaf, Pum, Grrrrrrrrr, eu não quero! Pof, catapof, Grrrrr!

- Ô mãe!! Eu ainda estou nervoso.  Você precisa me acalmar!  Quando eu não consigo me acalmar sozinho você me ajuda, é assim que funciona!!

- Olha Bruno, você precisa aprender a controlar sozinho a sua raiva e blá blá blá blá... - até que num dado momento ele estava no meu colo - blá blá blá... Está calmo agora?  Vamos fazer lição?

- Vamos!

Terminado, ele estava orgulhoso por ter resolvido o desafio e eu pude continuar meus estudos.   Ele estava tão contente que foi guardar a pasta cantarolando:

- Eu adooro a minha escoooola!  Lá eu aprendo um montãaaao e a professora ensiiiiiinaaaaa e apreeendeee!

(!!!!)

Leitura de mãos manejando durex

Ontem fomos comprar presentes de aniversário para amigos do Bruno.

A vendedora fez os pacotes com uma má-vontade nota 10. Não era falta de jeito, na qual não há problema algum,  era falta de vontade mesmo.  E como aprecio a arte de fazer pacotes, estava cheia de comichão ao ver aquelas mãos que mal conseguiam levantar do balcão e que baixavam tombando sobre o pacote, o durex grudado torto onde não era pra ter durex, etiqueta da loja sendo usada como durex por todos lados, a cabeça pendida pro lado...

O clima era pesado, e eu no meu exoterismo pensei na energia ruim que pairava ali.  Pensei em muita coisa, eu até me prometia a mim mesma que jamais deixaria que a rotina chegasse ao ponto de eu agir daquela maneira.  Bem, mas tudo eram pensamentos meus, algo que ebulia internamente, mania minha.

Então o Bruno foi mais além e entendeu tudo.  Ele virou pra mim e disse:

- Ela não tá feliz?

Desejei que a moça tivesse escutado. Que ela ouvisse aquilo e tomasse uma atitude.

Pendurei a pergunta na minha gargantilha, para olhar de vez em quando no espelho e lembrar da lição, como um checkup da saúde da alma.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Espanha, Brasil e amizades

Voltamos ao Brasil!  :-D

Fisicamente já faz quase 1 mês, mas talvez emocionalmente ainda estamos nos trasladando.  Ao mesmo tempo em que estamos felizes por estar perto de nossas famílias e de nossos valores, há a tal da readaptação que todos comentam.  É como uma planta num vaso: enquanto ela cresce dentro de um determinado vaso, está tudo bem, porque ela cresce moldando-se a ele.  Mas se ela é retirada desse vaso, passa um tempo em outro vaso e depois é colocada novamente no antigo vaso, não se encaixa mais.  É preciso cortar uns tequinhos da raiz aqui, colocar um pouco de terra acolá, pra ficar ajustadinho.  Bom, isso falando de planta velha, né, que tem aquelas raizonas quase saindo pelo buraquinho de drenagem...

Já o Bruno mudou de vaso e continuou verdejante.  Encarou com seu sorriso de sempre o encontro com sua nova-velha-vida.  Suas folhas já crescem bastante com o clima tropical úmido e quente.

E acho que descobri seu segredo: sabiamente, seu coração é escancarado à amizade.  Isso o faz crescer forte em qualquer vaso.  Ele reencontrou seus amigos com uma felicidade imensa, com muitos abraços.  

Por outro lado, ontem o Bruno lembrou-se de seus amigos espanhóis:

- Como estarão passando meus amigos na Espanha?

(Precisava ver o livro com a coletânea dos desenhos que cada amigo seu fez como despedida lá na Espanha... imagina o quanto eu chorei.)

Eu gostaria de ter um raio-X de sentimentos para saber tudo o que acontece dentro desse coração tão gigante, que abraça sua vida sempre com tanta alegria, seja num canto ou outro.  Tenho aprendido tanto com ele!

Essa é uma: antes de voltar, em meio à mega-confusão da mudança, eu disse ao Bruno que não aguentava mais estar ali.  E o Bruno disse:

- Mas por quê?  Se você aqui tem até amigas...

Minhas pernas trançaram, ele tinha toda a razão.   Vou me fazer essa pergunta toda vez que estiver irritada com coisas (e não-coisas) amontoadas à minha volta.