Ultimamente ando me sentindo na puberdade de novo, com a sensação de ver o encantamento da infância derreter entre os dedos.
(...)
Ah! Não, calma, a infância do Bruno vai bem. Minha dor é com os adultos mesmo. Com os sentimentos à flor da pele, percebo que prolifera um tipo de adulto que eu não quero que o Bruno seja e eu mesma não quero ser.
Digo que me sinto de novo na puberdade porque eu me lembro claramente de estar na 6a. série e ser pega de surpresa no meio de uma aula pela descoberta de que as pessoas estavam com os corações congelados. E ando com a mesma doída sensação.
Pais que põem a pressa à frente da demonstração de carinho. Quanto tempo se economiza ao não se dar um beijo e um sorriso ao filho na entrada da aula?
Pais que põem a pressa à frente do respeito pelo próximo. Por que eles acham que as crianças se tornam cegas no trajeto matutino de carro?
Há também os pais que são ditadores populistas. Os que distribuem beijos e se fazem sorridentes enquanto obrigam o filho a comer tudo o que há no prato, mesmo que ele não possa mais.
Mas admito que amor de pais é algo tão grandioso que, no ato de desejar toda a felicidade do mundo para o futuro do filho, acabam se rendendo às "exigências" da sociedade "moderna" e simplesmente não conseguem enxergar que ele tem direito a uma infância inteira a ser vivida agora, no pobre coitado do Presente mesmo.
Não duvido que os pais amam enlouquecidamente seus filhos. O que falta é deixar-se derreter pelo sorriso das crianças. E elas são fortes. Meu Deus, como são. Mesmo sob os mais rígidos comandos dos adultos, elas têm a ousadia de manter os olhos brilhando com ganas de brincar. E daí é que os adultos continuam achando que está tudo bem mesmo.
"Seguir o que diz o coração" também vale para criar filhos. Não é muito fácil escutá-lo, porque até mesmo na escola há muito ruído, há ruído por toda a parte e dentro de nossas cabeças há um zum-zum-zum que se diz racional e que teima em nos fazer acreditar que é o dono da verdade.
É fato consumado que o que somos na infância é a base do que seremos no futuro. Então, por que raios só se pensa no futuro? O futuro não chega nunca, sempre haverá um futuro. Por que encher a cabeça de uma criança de informações e tirar-lhe a vontade de aprender? Por que estimular seu raciocínio e não deixá-la pensar no que lhe interessa? E até mesmo: para que serve - pra quêee??? - estimular a criatividade se não há tempo para brincar?
Não dá para exigir que o mundo seja diferente se o que se formam são adultos tão tristes quanto os de hoje.
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(E não é que agora, depois deste post, descubro que hoje é o Dia Universal das Crianças, que a Declaração dos Direitos da Criança faz 50 anos e que a Convenção dos Direitos das Crianças faz 20? Uhmm... algo me cheira a esperança!)
5 comentários:
Maravilhoso, Marcia! Um desabafo, sim, profundo, sincero, queixoso, mas justo e pleno de significado. Que bom que o Bruno tem uma mãezinha que pensa nele com todo esse cuidado e carinho!
Do vô Zé Carlos
Assino embaixo.
Ouvi de um amigo (@ricnavarro) que existir é diferente de viver. Existir é acordar, comer, trabalhar, dormir. Viver é "fazer aquilo que nos dá orgulho". Nós, adultos, precisamos viver mais.
Acho irônico como a sociedade atual faz uma criança parar de ler um livro que gosta porque é hora da natação e depois faz ela parar de jogar futebol porque é hora de ir para a escola. "Pare de ler o que gosta, vá ler 'a pata nada'. Pare de jogar futebol com os amigos, vá fazer ginástica na escolinha."
O sistema educação atual é o mesmo desde o século XIX (http://alarchronicles.blogspot.com/2009/11/argumentacao-pelo-fim-do-atual-sistema.html) e, não só não temos coragem para mudá-lo, como começamos a institucionalizar até a brincadeira (aula de futebol e por aí vai).
Q lindo texto.. parabéns!
Posso citá-lo no meu blog? Bjs
Oi Carla, claro que sim, brigadão!
bjos
Linda reflexão, tanto da Marcia quanto do Ricardo.
Parabéns!
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