Eram férias de janeiro e estávamos os três curtindo a ala infantil da Livraria Cultura. Láaa no cantinho, beeeem no fundo, uma mãe puxou nervosa seu filho de cerca de 10 anos e lhe perguntou:
- Olha. Tá aqui. Quantos você vai ler?
- Mas mãe...
- TEM QUE LER. QUANTOS VOCÊ VAI LER?
- Um.
- Um não. Quatro.
- Um.
- Então três.
- Dois.
- Tá bom, tá bom, dois então. Vamo, escolhe logo, quais você quer ler? (...) Vamo, rápido, escolhe logo que eu quero sair daqui.
A bronca estava doendo em mim, então me movi para sair de perto. Foi inevitável: ao me virar e dar um passo, num só relance vi que os livros que a mãe havia espalhado no balcão para o menino escolher eu não diria nem para o Bruno ler com seus 6 anos. Era uma coleção de qualidade literária duvidosa, comercial, fininhos e claramente inadequados (para não dizer tontos) para um menino tão grande.
Quase chorando, o menino disse:
- Mãe, se você faz assim eu não consigo escolher!...
Aí sim a mãe foi delicada:
- ESCOLHE LOGO QUE EU NÃO AGUENTO MAIS FICAR AQUI!
Pobre mãe, tão pressionada pelo incentivo à leitura. Embora tenha ficado muito indignada com sua postura, não a culpo, pois ninguém conseguiu fazê-la gostar de ler, ela mesma é vítima.
Hoje é dia nacional do livro infantil. Eu sou absolutamente apaixonada por livro infantil e mesmo assim estou bem entediada com esses milhões de dias do livro que mais igualam o livro ao agrião.
Não se ensina o filho a gostar de livro (nem de agrião) se os pais e professores não tiverem este amor, verdadeiramente. “Tem que comer”...ops.. “ler!” – não é lá muito motivador.
E não adianta disfarçar o livro de brinquedo. Há espaço para tudo, mas oferecer um livro piscante ou com o personagem da moda achando que está incentivando a leitura é engano. É como misturar o agrião bem picadinho no meio do feijão.
Também acho que teatrinhos e filminhos contando a história de um menino triste que descobriu a felicidade dentro dos livros só causa mais aversão.
Antes de promover um incentivo à leitura dentro de casa, o adulto precisa se convencer de que ele mesmo gosta de ler. E não é preciso ser erudito, basta ler o que se gosta de ler, com prazer verdadeiro. Difícil saber como começar? Pode ser o caderno de automóveis do jornal, revista feminina, folheto de supermercado. Sei que não é fácil começar a gostar de agrião.
Bem, foi mais um desabafo, porque sei que quem teve paciência para ler um post tão grande deve gostar bastante de ler.
Aproveitando o gancho: já provou o agrião só com seus talos mais fininhos? Ou mesmo só a folhinha? Aquele talo grosso, quando colocado na sopa, murcha e perde o “ardido”, além de funcionar como um canudinho. E refogado? Uhmmm...
2 comentários:
Refogado é o melhor!! Adorava comer com arroz... Humm, me fez lembrar da infância...
Bjs
Lilian Okada
Ahaha, cada detalhe que lembramos da infância, né? De vez em quando conto pra minha mãe essas coisinhas que guardo com carinho e ela dá muita risada por ter me marcado com coisas que ela nem achava importante.
bjos!
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