quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Momentos mágicos da janela do apartamento

- Mãe, mãe, vem ver!!  Tem um ataque de pombos aqui na janela!!

Bah, pombos.  Quando o Bruno nasceu, uma pomba fez seu ninho na janela do banheirinho do fundo do apartamento, argh, que nojo aquela pomba com um ninho num apartamento que deveria estar imaculado com meu bebezinho novinho.

- Mãe, é sério! É a revolta dos pombos aqui na janela. Vem-vêeeeee!!!

- Tô indo, tô indo!  - larguei a cebola picada pela metade e lá fui na janela da sala.  Sorri.  Sorri muito.  Lasquei um beijo no Bruno.  Eram muitas, e lindas, voando leves e sapecas.

- Bruno!!  São andorinhas!  Adoro andorinhas.  O verão vem vindo, elas passam por aqui na cidade nessa época.

Foi a primeira vez que vi andorinhas na minha janela de apartamento.

Tenho uma lembrança muito, muito doce de andorinhas...  Eu morava no sítio e cursava o colégio.  Tinha varado uma madrugada fazendo o trabalho de conclusão do curso e o sol começou a nascer laranja, laranjíssimo. Da janela de vidro antigo riscadinho eu pude ver que havia uma movimentação diferente lá fora.

O sol nascia dentro do nosso horizonte. Grande, gigante, contente.  E chegava o verão, as andorinhas voavam loucamente por todos os lados, riscando o céu e quase o chão.  Elas passavam rente a mim, sobre minha cabeça, sobre meus ombros.  E então senti nos meus ombros as mãos do meu pai.  Ele ficou uns minutinhos olhando as andorinhas, o sol, apertou meu ombro e entrou para fazer o café.  Não falamos nada (não eram nem 6 da manhã, poupem-me).  Mas sabíamos que aquela cena era especial.

Eu queria dar para meus filhos essas cenas especiais.  Para mim dói ver andorinhas com a Marginal engarrafada de fundo.  Um, porque se elas estão aqui é porque não têm mais para onde ir.  E dois, porque eu queria que o Bruno visse andorinhas do chão, não do alto de um prédio.  Cercado de árvores.  Perto de um riachinho vivo.



Eu queria que o Renato contemplasse a chuva pela primeira vez numa varanda aberta.  Sentindo cheiro de terra molhada.  Vendo os cachorros fugindo pra se esconder.  Ouvindo os passarinhos cantando um a um no fim da tempestade.  E não na janela do apartamento, vendo a chuva passar pela grade, pela rede de proteção e caindo nessa sacadinha de nada.

Bem, eu queria.  Mas foram momentos mágicos mesmo assim.  Ver o Bruno e as andorinhas.  O Renato e a chuva.

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