Depois de um café da manhã de sábado, Bruno larga o Youtube e vem nos contar:
- Mãe, pai, sabe o que eu fiquei sabendo? Não é que eu quero isso não tá? Lá no Youtube, quem atingir um milhão de inscritos, que eu sei que é impossível pra mim, ganha uma marca dourada!!
A novidade foi perdendo o brilho e a carinha do filhote foi murchando. Saiu pro quarto mas não conseguiu esconder a cara triste que resolveu aparecer.
Eu podia deixar pra lá. Ah, bobagem. Logo passa, não é?
***
Eu tinha onze anos quando entendi: ser adulto maduro era parar de sonhar. Mas eu achava errado. E decidi que minha luta seria ir contra isso. Sem querer, isso foi ficando aqui comigo. Sem eu nem perceber, nunca me afastei dessa missão. E só me dei conta agora, quase com 40.
***
Olhei meu filho de quase onze anos pré-frustrado porque achava impossível atingir a marca de um milhão de inscritos no seu canal.
Fui lá.
Conversei com ele um montão. Pra resumir a conversa, vai aqui a frase do horizonte do Eduardo Galeano. Conhece?
“La utopía está en el horizonte. Camino dos pasos, ella se aleja dos pasos y el horizonte se corre diez pasos más allá. ¿Entonces para que sirve la utopía? Para eso, sirve para caminar.”
***
Demorou para eu entender que não é falta de maturidade ser sonhador. Passei a maior parte de minha vida sem desconfiar que esses meus sonhos sempre tão altos, tão distantes, são o que me fazem querer ser sempre uma pessoa melhor. São minha motivação. Sonhos lindos.
***
Perguntei ao Bruno como é que ele ficaria mais contente: atingindo 1 milhão de inscritos com um canal em que ele postasse vídeos semanais pagando mico, ou chegando aos 50.000 inscritos com vídeos falando sobre games e outros assuntos que ele gosta.
Então com suas próprias respostas ele concluiu:
- Meu sonho não é atingir um milhão de inscritos. Meu sonho é gravar bons vídeos.
Quero que ele sonhe alto, muito alto. E que voe para alcançar, bem alto. E que comemore cada etapa concluída, cada vitória rumo aos sonhos.
Daí o Renato entrou no quarto com seus passinhos de um ano de idade. Já foi logo tagarelando e remexendo os carrinhos do irmão. Bruno pegou seu Daruma da estante. Por muito tempo ele só tinha um olho pintado. Foi marcante pintar o segundo olho, um momento de gratidão.
Com o Daruma entre as duas mãos em conchinha, sorriu para o Renato que botava o quarto dele de pernas para o ar.
- Sabe mãe. Vale muito a pena sonhar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário